O Antigo Testamento, longe de ser uma mera coleção de histórias antigas e leis arcaicas, revela um propósito fundamental para a existência humana e para toda a criação. Para compreendermos esse propósito, é essencial reconhecer a unidade da Bíblia, onde o Antigo Testamento estabelece as promessas de Deus que encontram seu cumprimento pleno no Novo Testamento, especialmente em Jesus Cristo.
Desde o princípio, a criação declara a glória de Deus. O livro de Gênesis inicia com o ato soberano de Deus criando os céus e a terra, demonstrando sua autoexistência e poder. Essa criação não é um evento aleatório, mas um ato intencional de um Deus que revela seu caráter através do mundo que ele fez. Mais do que a criação inanimada e a vida, Deus cria o homem à sua imagem e semelhança. Essa imagem divina confere à humanidade um lugar especial na criação, com a implicação de refletir o caráter do Criador.
Entretanto, essa ordem inicial é quebrada pela queda. O pecado de Adão e Eva introduz a desobediência e a ruína, afetando não apenas a humanidade, mas todo o cosmos. A partir desse ponto, a história do Antigo Testamento narra a luta da humanidade com o pecado e a constante paixão de Deus pela santidade. Deus deseja que seu povo seja separado para Ele, vivendo de acordo com o seu caráter. O pecado, por sua natureza, separa o homem de Deus, criando uma necessidade de reconciliação.
O conceito de expiação surge como a maneira pela qual essa separação pode ser superada. No Antigo Testamento, a expiação está intrinsecamente ligada ao sacrifício. Deus, em sua iniciativa, providencia o caminho para que um povo desobediente possa ser restaurado à comunhão com Ele. Os sacrifícios, como o cordeiro pascal, apontavam para a necessidade de um sacrifício perfeito para satisfazer as justas exigências de Deus por causa do pecado.
No entanto, o Antigo Testamento também apresenta um “enigma”: como um Deus misericordioso e piedoso pode perdoar a iniquidade, a transgressão e o pecado, e ainda não ter o culpado por inocente? A resposta para esse enigma e a esperança do Antigo Testamento residem nas promessas de Deus. A história do Antigo Testamento demonstra a incapacidade do povo de viver à altura da santidade de Deus e a inadequação do sistema sacrificial em si mesmo para remover completamente a culpa. Essas promessas apontam para uma Pessoa futura, o Messias prometido, que traria a solução definitiva.
Assim, o propósito fundamental da existência humana no Antigo Testamento é viver em comunhão com o Deus que nos criou à sua imagem, refletindo o seu caráter santo. A criação, por sua vez, existe para manifestar a glória de Deus. O pecado frustra esse propósito, mas Deus, em seu amor e fidelidade, providencia um caminho de restauração através da expiação e da promessa de um Redentor.
O Novo Testamento revela que Jesus Cristo é o cumprimento dessas promessas. Ele é o sacrifício perfeito que expia o pecado e reconcilia a humanidade com Deus. Através de Cristo, o propósito original da criação e da existência humana é restaurado: um povo santo que louva a Deus e vive em comunhão com Ele. Portanto, o Antigo Testamento, com sua história específica, sua paixão pela santidade e sua promessa de esperança, aponta incessantemente para Cristo, em quem o propósito de Deus para a criação e para a humanidade encontra sua plena realização. A resposta apropriada do ser humano a essa revelação é a fé e a obediência.
Em resumo, o Antigo Testamento ensina que existimos para a glória de Deus, criada à sua imagem para refletir seu caráter. O pecado nos desviou desse propósito, mas Deus, em sua graça, prometeu e providenciou a redenção em Cristo, o qual cumpre as promessas do Antigo Testamento e nos capacita a viver novamente para a glória de Deus.