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A arqueologia tem lançado considerável luz sobre os costumes sociais dos patriarcas, fornecendo um contexto cultural rico que ressoa com as narrativas bíblicas no livro de Gênesis. Descobertas recentes intensificaram o estudo deste período, e o conhecimento expandido das culturas contemporâneas do Próximo Oriente tem iluminado as narrativas bíblicas.

O mundo dos patriarcas, situado no Crescente Fértil durante a primeira metade do segundo milênio a.C., viu o florescimento de civilizações na Mesopotâmia e no Egito. As escavações arqueológicas proporcionaram perspectivas valiosas sobre as culturas que prevaleceram durante este período. Embora não haja evidências concretas para identificar nomes ou acontecimentos específicos fora dos relatos de Gênesis, é fácil reconhecer que o meio cultural é o mesmo para ambos.

A descoberta e publicação das tabuinhas de Nuzu desde 1925 foram particularmente revolucionárias na compreensão da historicidade dos relatos patriarcais. Essas tabuinhas revelaram costumes sociais e legais que encontram paralelos diretos nas narrativas de Gênesis.

Um exemplo notável é o plano de Abrão de fazer de Eliézer seu herdeiro, já que não tinha filhos (Gn 15.2). Isso reflete as leis de Nuzu, que permitiam a um casal sem filhos adotar um servo fiel como filho, que poderia ter direitos legais e ser recompensado com a herança.

Os costumes matrimoniais em Nuzu, assim como o Código de Hamurabi, também esclarecem as relações familiares patriarcais. Se a esposa de um homem casado não tivesse filhos, o filho de uma criada poderia ser reconhecido como herdeiro legítimo. A relação de Agar com Abrão e Sara é típica dos costumes que prevaleciam na Mesopotâmia. A preocupação de Abrão com o bem-estar de Agar também se explica pelo fato de que, legalmente, uma criada que desse à luz um filho não podia ser vendida como escrava.

A capacidade de negociação de Jacó para garantir a herança de Esaú (Gn 25) também encontra eco nos costumes de Nuzu, que regulamentavam os direitos de herança. Sua aquisição da primogenitura por um prato de lentilhas e a subsequente obtenção da bênção de Isaque, embora envolvendo estratagema, eram atos que possuíam validade legal dentro do contexto cultural da época, onde bênçãos orais tinham peso legal. No entanto, o relato bíblico enfatiza a importância da chefia familiar acima das bênçãos materiais.

Os documentos de Mari, datados de cerca de 1750-1700 a.C., revelam a situação política na Mesopotâmia durante parte do período patriarcal. Zimri-Lim, rei de Mari, estendeu sua influência desde o médio Eufrates até Canaã. O magnífico palácio de Mari e as milhares de tabuinhas cuneiformes encontradas demonstram uma administração eficiente de um império considerável e revelam os interesses políticos e comerciais dos governantes amorreus.

A transição da história patriarcal para o Egito, com as experiências de José (Gn 39-50), também é iluminada pela arqueologia. Os nomes e títulos egípcios mencionados na narrativa, como Potifar (“capitão da guarda”) e Azenate (esposa de José, filha de um sacerdote de Om), são consistentes com os achados arqueológicos. A prática egípcia de ter oficiais importantes na corte, como o “chefe dos mordomos” e o “chefe dos padeiros”, também é refletida no relato bíblico.

Além dos costumes legais e administrativos, a arqueologia também oferece insights sobre as práticas funerárias e crenças da época. As descobertas no cemitério da Primeira Dinastia de Ur (Sumer) revelaram que as pessoas comuns eram enterradas com alimentos, bebidas, armas e adornos, sugerindo uma crença na vida após a morte. Os túmulos reais continham ainda mais provisões para o além, incluindo bens materiais e, tragicamente, serventes que eram aparentemente sacrificados para garantir servidão na vida após a morte dos reis e rainhas.

A influência cultural entre diferentes povos da região também é atestada arqueologicamente. Os acádios, por exemplo, adotaram a cultura dos sumérios, incluindo sua escrita, que foi adaptada para a língua semítica babilônica. A presença de uma colônia hitita nos dias de Abrão (Gn 23) sugere uma data para Abrão posterior a 1900 a.C.. As cartas de Amarna (por volta de 1400 a.C.) indicam relações diplomáticas e fraternais entre as famílias reais de Mitanni e Egito, mostrando a complexa rede de interações políticas na região.

Em resumo, a arqueologia enriquece significativamente nossa compreensão dos costumes sociais dos patriarcas, fornecendo evidências de práticas legais, costumes matrimoniais e familiares, estruturas políticas e crenças que ressoam com os relatos bíblicos e os colocam dentro de um contexto histórico e cultural plausível. As descobertas, especialmente as tabuinhas de Nuzu e os documentos de Mari, oferecem paralelos notáveis que sustentam a visão dos patriarcas como figuras inseridas em um mundo culturalmente complexo do segundo milênio a.C..

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