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A relação entre George Whitefield e John Wesley, as duas figuras centrais do reavivamento do século XVIII, passou por diversas fases distintas ao longo do tempo. Sua associação começou com deferência, evoluiu para uma parceria dinâmica no início do reavivamento, depois sofreu um período de discórdia devido a diferenças teológicas significativas, seguido por um gradual arrefecimento das tensões e, finalmente, um reconhecimento mútuo e uma reconciliação.

Inicialmente, a relação era marcada por deferência, especialmente nos anos em que Whitefield era um estudante em Oxford e Wesley já era uma figura estabelecida no “Clube Santo”. Whitefield chegou a Pembroke College em 1732, vindo de um contexto mais humilde, e via os irmãos Wesley, que tinham frequentado escolas de prestígio, com grande respeito. Foi Charles Wesley, com sua natureza mais aberta e emocional, quem inicialmente acolheu Whitefield e o convidou para o Clube Santo. No entanto, em um período de grande angústia espiritual, Whitefield buscou conselho com John Wesley, e ele reconheceu a “excelente orientação e gestão” de Wesley em ajudá-lo a superar suas dificuldades. Durante esse período, Whitefield considerava John Wesley seu “pai espiritual em Cristo” e suas cartas a Wesley eram dirigidas como “Honrado senhor”. Wesley, por sua vez, permitia que Whitefield o procurasse para instrução, “conforme ele era capaz de suportar”.

A segunda fase da relação foi de parceria, à medida que o reavivamento ganhava força. Em 1736, quando John Wesley partiu para a Geórgia como missionário, ele confiou a supervisão dos metodistas de Oxford ao recém-ordenado Whitefield. Rapidamente, Whitefield alcançou fama nacional como o “menino pregador”, superando em muito o reconhecimento de seu antigo instrutor. Apesar de seu sucesso, Whitefield demonstrava profundo respeito por Wesley, referindo-se a si mesmo como um “noviço” e reconhecendo a experiência de Wesley nas “grandes coisas de Deus”. Em 1739, antes de convidar Wesley para se juntar a ele em Bristol, Whitefield disse a seus convertidos que “estava vindo depois dele um cujas sandálias ele não era digno de desatar”.

Nesse período crucial, foi o jovem e exuberante Whitefield quem assumiu a liderança em termos de inovação evangelística, impulsionando um Wesley mais velho e cauteloso a segui-lo. Whitefield deu o passo fundamental de pregar ao ar livre em 1739, primeiro para os mineiros de carvão perto de Bristol e depois para os pobres das ruas de Londres. Essa prática levou o metodismo para fora das sociedades anglicanas respeitáveis e em direção às vastas massas não alcançadas. Whitefield incentivou os relutantes irmãos Wesley a segui-lo como pregadores de campo. Em 1739, Whitefield e os Wesleys trabalharam em estreita harmonia, como irmãos e iguais. Whitefield confiava em Wesley para ajudar a organizar e instruir os convertidos que ele ganhava através de sua oratória notável.

No entanto, essa colaboração fraterna não durou, e a relação logo entrou em uma fase de discórdia devido a um debate teológico acirrado sobre a doutrina da graça, especificamente a predestinação. Os Wesleys eram firmemente arminianos, negando a predestinação, enquanto o reavivamento atraía muitos adeptos zelosos de áreas onde o calvinismo puritano era forte. Inicialmente, Whitefield não era predestinário, mas por volta de sua viagem à América no verão de 1739, ele estava lendo livros calvinistas, e o contato com calvinistas americanos fervorosos aprofundou seu conhecimento nessa área.

Mesmo antes da partida de Whitefield, John Wesley decidiu atacar a teoria calvinista da graça. Em março de 1739, ele não apenas pregou, mas também publicou um sermão apaixonadamente arminiano intitulado “Graça Livre”. Wesley temia que o calvinismo propagasse o fatalismo e desencorajasse o crescimento na santidade. Charles Wesley compartilhava dessa preocupação, vendo a ideia de reprovação (que Deus predestinou alguns à condenação) como incompatível com um Deus de amor.

Whitefield, conhecido por ser mais pacífico do que John Wesley, demorou a responder. Ele deixou claro que não era um mero seguidor, mas um líder, e em alguns aspectos, estava à frente de seu antigo conselheiro. Ele reconheceu que Deus o havia enviado primeiro e o iluminado primeiro, e acreditava que isso continuava acontecendo. No entanto, ele também reconheceu o enorme talento de Wesley para o cuidado das almas, afirmando que seu trabalho parecia ser principalmente o de plantar, enquanto o de Wesley era o de regar. Apesar disso, na véspera de Natal de 1740, Whitefield escreveu sua resposta a Wesley, defendendo a doutrina calvinista da graça. A controvérsia se intensificou quando Wesley publicou provocativamente “Graça Livre” na América. Quando Whitefield foi convidado a pregar na sede de Wesley em Londres, ele escandalizou a congregação ao pregar sobre os “decretos absolutos [da eleição] da maneira mais peremptória e ofensiva”, enquanto Charles Wesley estava sentado ao lado, furioso.

A partir de 1740, o reavivamento seguiu linhas paralelas. As “Sociedades Unidas” de Wesley cresceram junto com as sociedades “Metodistas Calvinistas” na Inglaterra e no País de Gales. Em Londres, os seguidores de Whitefield estabeleceram seu Tabernáculo na mesma rua da Foundery de Wesley, em uma clara demonstração de rivalidade. Esse período foi marcado por uma divisão irreconciliável dentro do movimento metodista nascente.

Com o tempo, as tensões começaram a diminuir, marcando uma fase de arrefecimento. O evangelista de coração aberto Howell Harris trabalhou para reunir os dois lados, mas achou isso impossível, em parte porque nenhum dos lados conseguia se submeter ao outro líder. De fato, os seguidores de ambos os homens muitas vezes se mostraram mais partidários do que seus próprios líderes. Apesar de suas diferenças doutrinárias, Whitefield era um calvinista moderado que não deixava a doutrina da predestinação impedi-lo de oferecer a graça a todos ou de insistir na necessidade de santidade nos crentes. John Wesley, por sua vez, admitiu (por um tempo) que algumas almas poderiam ser eleitas para a vida eterna. Quando não estavam exaltados pela controvérsia, ambos os homens viam essas questões como não essenciais. No auge da disputa, Whitefield citou o reformador John Bradford, enfatizando a importância da fé e do arrependimento antes de se aprofundar nas questões da eleição e predestinação.

Embora uma fusão dos dois campos não tenha ocorrido, houve pelo menos uma reconciliação entre os líderes. Essa “união mais estreita em afeto” continuou, com alguns contratempos, mas sem sérias interrupções, até a morte de Whitefield. Em 1755, Charles Wesley pôde escrever alegremente, reconhecendo que, apesar do conflito passado, eles eram amigos novamente. A relação foi descrita por um dos pregadores de Wesley como um “acordo para discordar”. Whitefield era bem-vindo para pregar nas sociedades de Wesley, e Wesley emprestou a Whitefield um de seus melhores pregadores para trabalhar no Tabernáculo. Whitefield se recusou a construir capelas calvinistas em lugares que já possuíam uma sociedade wesleyana, e Wesley concordou com o inverso. Mais de uma vez, Whitefield atuou como mediador quando os irmãos Wesley se desentenderam. Essa amizade persistiu mesmo que a antiga divisão não fosse esquecida.

Um fator que facilitou a melhora das relações entre os dois grandes líderes foi a decisão de Whitefield, em 1749, de abandonar a liderança formal das sociedades metodistas calvinistas. Com isso, ele não representava mais uma ameaça a Wesley como principal organizador do reavivamento. Whitefield reconheceu que sua principal vocação era como uma “testemunha itinerante”, preferindo viajar continuamente e deixar que outros pastores reunissem as ovelhas perdidas que ele encontrava. Wesley, por outro lado, insistia que seus convertidos fossem organizados e edificados na fé, vendo a falta de supervisão espiritual adequada como uma das razões para o declínio do Grande Despertar.

Em última análise, tanto Whitefield quanto Wesley (e os Moravianos) merecem crédito como pais fundadores do grande reavivamento. O mais notável é a complementaridade providencial dos dons dos dois homens. Whitefield possuía uma habilidade singular de semear a Palavra de Deus pelo mundo, enquanto Wesley recebeu a capacidade preeminente de colher o grão e preservá-lo.

Em 1770, o ano de sua morte, Whitefield escreveu a Charles como “meu muito querido velho amigo” e descreveu John como “seu honrado irmão”. A cada um, ele legou um anel de luto, “em sinal de minha união indissolúvel com eles em coração e afeto cristão, apesar de nossa diferença de julgamento sobre alguns pontos particulares de doutrina”. Após a morte de Whitefield, Charles escreveu uma nobre elegia, e a pedido de Whitefield, seu sermão fúnebre foi pregado por ninguém menos que seu antigo oponente, John Wesley. Esse gesto final de Wesley selou a evolução de uma relação que passou por admiração, parceria, conflito e, finalmente, um profundo respeito mútuo e amizade cristã.

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