Raquel roubou os ídolos de seu pai, Labão, por uma razão que parece ter sido mais ligada a costumes legais e direitos de herança da época do que a convicções religiosas. Os ídolos em questão eram o terafim, que Raquel conseguiu esconder com sucesso enquanto Labão procurava nas possessões de Jacó.
A perturbação de Labão com o desaparecimento desses ídolos sugere que eles possuíam um significado além do meramente religioso. De acordo com a lei de Nuzu, um genro que possuísse os deuses-lar poderia reivindicar a herança da família perante um tribunal. Portanto, a ação de Raquel de roubar os ídolos de seu pai foi provavelmente uma tentativa de assegurar uma certa vantagem para seu marido, Jacó, em relação à herança de Labão.
Nesse contexto, o terafim não era apenas um objeto de veneração religiosa para Labão, mas também um símbolo de autoridade familiar e um instrumento legal que poderia influenciar a distribuição de bens e a sucessão familiar. Ao tomar posse desses ídolos, Raquel estava, segundo os costumes legais da época, potencialmente conferindo a Jacó um direito maior sobre a herança de Labão.
É importante notar que a narrativa bíblica destaca a diferença entre a perspectiva religiosa de Jacó e a de Labão. Enquanto Jacó era monoteísta, adorando ao Deus de Abraão e Naor, Labão era politeísta e também distinguia entre os deuses de Naor e o Deus de Abraão. Essa distinção religiosa pode ter influenciado a decisão de Raquel, diminuindo qualquer apreensão que ela pudesse ter em relação a roubar objetos considerados sagrados por seu pai. Para Raquel, cujo marido seguia um único Deus, a importância religiosa dos ídolos de Labão poderia ter sido menor do que seu valor legal e estratégico para o futuro de sua família.
Além disso, a relação entre Jacó e Labão era marcada por tensões e disputas, especialmente em relação aos seus acordos trabalhistas e à crescente prosperidade de Jacó. A decisão de Jacó de partir para retornar à terra de seus pais foi tomada sem o conhecimento de Labão, e a busca posterior de Labão indica seu descontentamento com essa partida e, particularmente, com o desaparecimento de seus deuses-lar. Nesse cenário de relações tensas e com o objetivo de construir um futuro independente para sua família, a posse dos ídolos de Labão poderia representar para Raquel uma forma de garantir uma vantagem adicional para Jacó ao se separar da influência de seu pai.
Portanto, a motivação de Raquel ao roubar os ídolos de Labão parece primariamente estratégica e legal, visando assegurar para seu marido, Jacó, um possível direito à herança de Labão, em conformidade com os costumes da lei de Nuzu da época. Embora a Bíblia não explicite os pensamentos de Raquel, o contexto legal e as relações entre Jacó e Labão fornecem uma explicação plausível para essa ação.