As principais mudanças históricas e culturais que prepararam o terreno para o surgimento do pensamento escolástico podem ser identificadas nas fontes fornecidas.
O termo Escolástica designa o pensamento cristão desenvolvido entre os séculos IX e XV. O nome “Escolástica” deriva dos locais de ensino, como as escolas monásticas, catedrais e palatinas, que posteriormente se transformaram nas universidades da Europa Ocidental.
Diversos antecedentes históricos e mudanças na Europa contribuíram para o surgimento da Escolástica:
- As invasões bárbaras e a queda do Império Romano Ocidental definiram uma nova geografia e promoveram o encontro de diferentes culturas, tradições e costumes. Este período de transformação criou um novo contexto social e intelectual na Europa.
- Os monastérios desempenharam um papel crucial como refúgios da cultura medieval. Eles se transformaram nos guardiões da cultura e das tradições, preservando e copiando livros e documentos, e também se encarregavam da educação através de suas escolas monásticas. Essa atividade de preservação e educação manteve viva a erudição em um período de instabilidade.
- A Reforma Gregoriana, no início do século VII sob o Papa Gregório Magno (540-604), iniciou um período de preservação teológica. Durante esse período, as únicas produções teológicas permitidas eram as Catenae e as Sentenças. Embora focada na preservação, essa reforma estabeleceu uma base teológica que seria posteriormente elaborada pela Escolástica.
- A Renascença Carolíngia, no início do século IX, marcou um ponto de virada. As escolas monásticas foram reequipadas com o objetivo de formar um clero culto e leigos preparados para a vida civil. Essa ênfase na educação e no desenvolvimento intelectual foi fundamental para o surgimento de um pensamento mais sistematizado.
- Junto às escolas monásticas, surgiram as escolas palatinas. Estas ofereciam um programa simples que incluía aprender a ler e escrever, aulas de música e de aritmética, e eram dirigidas por um eclesiástico chamado scholasticus. A expansão dos locais de ensino contribuiu para uma maior disseminação do conhecimento.
- Alcuíno de York (735-804) formulou um projeto pedagógico medieval que se dividia no trivium (gramática, retórica, dialética) e no quadrivium (aritmética, geometria, astronomia, música). A implementação desse projeto pedagógico estabeleceu uma estrutura educacional que valorizava as artes liberais e, particularmente, a dialética, que se tornaria uma ferramenta importante no método escolástico.
- A partir de Scoto Erígena, no século IX, houve uma reestruturação do pensamento teológico, marcando o fim de um período de relativo silêncio teológico e o início de um novo vigor intelectual que culminaria na Escolástica. Nos séculos XI e XII, duas correntes principais se desenvolveram: a mística e a dialética.
Em resumo, as principais mudanças históricas e culturais que prepararam o terreno para o surgimento do pensamento escolástico incluem a reconfiguração da Europa após as invasões bárbaras, o papel dos monastérios na preservação do conhecimento, a ênfase na preservação teológica durante a Reforma Gregoriana, o impulso educacional e intelectual da Renascença Carolíngia, o surgimento de novas instituições de ensino como as escolas palatinas, a formulação de um projeto pedagógico estruturado e a retomada e reestruturação do pensamento teológico a partir do século IX.