Diversos fatores levaram o rei Josias a iniciar uma significativa reforma religiosa em Judá. Sua própria inclinação para Deus desde tenra idade, descoberta de um texto fundamental da lei divina, a percepção da profunda apostasia da nação e a confirmação profética do juízo divino iminente foram elementos cruciais que o impulsionaram a promover uma transformação religiosa em seu reino.
Desde jovem, Josias demonstrou uma inclinação para buscar a Deus. Aos dezesseis anos, seu coração já se voltava para o Senhor, priorizando-o em vez de conformar-se com as práticas idólatras prevalecentes. Quatro anos depois, sua devoção a Deus se solidificou a ponto de dar início a uma reforma religiosa por volta de 628 a.C..
Um ponto de inflexão crucial para a reforma de Josias foi a redescoberta do Livro da Lei no décimo oitavo ano de seu reinado (622 a.C.), enquanto o templo estava sendo reparado. Hilquias, o sumo sacerdote, encontrou o livro e o entregou a Safã, o secretário do rei, que o examinou e leu para Josias. A leitura deste “livro da lei do Senhor dado a Moisés” teve um impacto profundo no rei. Josias ficou terrivelmente perturbado ao constatar que o povo de Judá não havia obedecido à lei. A ignorância da lei não era considerada uma escusa, mesmo que o livro tivesse permanecido perdido por algum tempo. A constatação de que “nossos pais não guardaram a palavra do SENHOR” (2 Cr 34.21) alarmou profundamente Josias.
Consciente da iminente ira divina devido à desobediência generalizada, Josias buscou aconselhamento profético. Ele enviou Hilquias e outros oficiais para consultar Hulda, uma profetisa residente em Jerusalém. A mensagem de Hulda foi clara e direta: os castigos e juízos pela idolatria eram inevitáveis, e Jerusalém não escaparia da ira de Deus. Contudo, ela assegurou a Josias que ele seria poupado da angústia da destruição de Jerusalém, pois havia respondido com arrependimento ao livro da lei.
O contexto histórico e religioso anterior ao reinado de Josias também desempenhou um papel significativo em sua decisão de iniciar a reforma. Por cerca de meio século antes de seu governo, uma intensa idolatria havia prevalecido em Judá. Reis como Manassés e Amon haviam perseguido aqueles que defendiam a conformidade com a verdadeira religião. Manassés, em particular, havia derramado muito sangue inocente, o que levava a crer que ele poderia ter destruído cópias da lei que circulavam em Judá. Na ausência de escrituras acessíveis, Josias provavelmente buscou orientação junto aos anciãos e sacerdotes que ainda possuíam conhecimento da lei para receber instrução oral. Isso o levou à firme convicção, nos primeiros doze anos de seu reinado, da necessidade de uma reforma em escala nacional.
Além dos fatores religiosos, o declínio da influência assíria nos últimos anos de Assurbanipal (que morreu por volta de 630 a.C.) proporcionou a Judá uma oportunidade de estender sua influência sobre o território do norte. Embora a motivação principal de Josias fosse religiosa, este cenário político em mudança pode ter criado um ambiente mais propício para a implementação de reformas que desafiavam práticas religiosas sincretistas ou ligadas à vassalagem assíria.
Em resposta à leitura do Livro da Lei e à confirmação profética, Josias reuniu os anciãos de Judá, sacerdotes, levitas e todo o povo de Jerusalém para uma leitura pública do livro. Em um pacto solene, o rei e o povo prometeram se dedicar à completa obediência da lei. Imediatamente, foram feitos planos para a fiel observância da Páscoa, o serviço do templo foi restabelecido, e a organização dos levitas, conforme ordenado por Davi e Salomão, recebeu cuidadosa atenção. A reforma se estendeu por toda Judá e também pelas cidades de Samaria, no antigo Reino do Norte. Os altares de Baal foram derrubados, os aserins destruídos, e os utensílios sagrados utilizados no culto de ídolos foram removidos. Os “lugares altos” foram suprimidos, e os sacerdotes idólatras foram presos.
Em resumo, a reforma religiosa de Josias foi o resultado de sua pessoal busca por Deus, da impactante descoberta do Livro da Lei que revelou a profundidade da transgressão de Judá, da confirmação profética do juízo divino e do contexto de prolongada apostasia que clamava por uma mudança radical. Sua resposta ao chamado divino e à Palavra de Deus desencadeou um movimento de restauração religiosa que buscou conformar a vida da nação com os mandamentos do Senhor.