A mudança da capital para perto de Mênfis foi motivada por uma série de fatores relacionados à busca por um governo centralizado forte e à prosperidade econômica durante o Reino Médio do Egito (2000-1780 a.C.). Embora a Décima Segunda Dinastia fosse originária de Tebas, seus governantes optaram por estabelecer sua capital em uma localização próxima a Mênfis.
Essa decisão estratégica marcou o retorno de um governo centralizado poderoso após um período de declínio durante as cinco dinastias anteriores (2200-2000 a.C.), quando o governo central enfraqueceu e a capital foi transferida de Mênfis para Herakleópolis. A literatura clássica desse período reflete essa instabilidade e fragilidade do governo.
A escolha de uma nova capital perto de Mênfis pela Décima Segunda Dinastia pode ser atribuída a várias razões:
- Restauração do poder centralizado: O Reino Médio representou uma fase de revitalização do governo egípcio. Estabelecer a capital perto de Mênfis, que historicamente já havia sido um importante centro de poder, poderia ter sido uma forma de reafirmar a autoridade e a estabilidade do faraó após o período de descentralização.
- Interesses econômicos: O período da Décima Segunda Dinastia foi marcado por um aumento significativo da riqueza do Egito, impulsionado por um projeto de irrigação que abriu o fértil distrito de Fajum para a agricultura. A proximidade com essa região produtiva e com as rotas comerciais que passavam por Mênfis poderia ter facilitado a administração e a exploração desses recursos econômicos. Mênfis estava estrategicamente localizada no delta do Nilo, o que a tornava um ponto crucial para o comércio e a comunicação tanto com o Alto Egito quanto com o exterior.
- Infraestrutura e construção: O Reino Médio também foi uma época de intensa atividade de construção de grandes edifícios, tanto em Karnak, perto de Tebas, quanto em outras partes do país. Embora Tebas continuasse sendo um centro religioso importante, concentrar a capital perto de Mênfis poderia ter oferecido melhores condições logísticas e de recursos para projetos administrativos e possivelmente para outras construções na região do delta.
- Continuidade histórica: Mênfis tinha sido a capital do Antigo Reino e permanecido um centro importante mesmo durante o Primeiro Período Intermediário. Mover a capital para perto de Mênfis poderia ter sido uma maneira de se conectar com o passado glorioso do Egito e buscar legitimidade através dessa associação histórica.
É importante notar que, embora a capital tenha sido estabelecida perto de Mênfis, Tebas manteve sua relevância, especialmente como centro religioso. A Dinastia Décima Oitava, por exemplo, construiu magníficos templos em Karnak e Luxor, perto de Tebas, demonstrando o patrocínio real a Amom. A ascensão do sacerdócio de Amom em Tebas foi tal que, no tempo de Aquenáton, desafiou o poder dos faraós.
Em resumo, a mudança da capital para perto de Mênfis durante o Reino Médio foi um movimento estratégico da Décima Segunda Dinastia visando consolidar o poder centralizado, aproveitar o aumento da riqueza econômica proporcionado por projetos de irrigação, facilitar a administração e o comércio, e possivelmente buscar uma ligação com a história administrativa do Egito. Essa decisão refletiu a busca por estabilidade e prosperidade após um período de fragmentação política.