20250402 a vivid scene of anabaptist reformers gathered in u2

Os anabatistas definiam a verdadeira fé cristã por um conjunto de princípios interligados que abrangiam desde a aceitação da graça divina até a vivência radical dos ensinamentos de Cristo em comunidade. Para eles, a fé genuína não era meramente uma profissão de lábios, mas uma transformação completa da vida que se manifestava em obediência, amor e separação do mundo.

Em primeiro lugar, os anabatistas, assim como outros cristãos do século XVI, acreditavam que a fé cristã era revelada por Deus, tendo Jesus Cristo como o mediador dessa revelação. A salvação era entendida como um dom da graça de Deus, alcançada através da fé em Jesus Cristo, cujo sacrifício na cruz, uma expressão do amor e misericórdia divinos, removia o pecado e proporcionava o perdão. As obras humanas, por si só, não possuíam mérito algum diante de Deus. A vida em Cristo era, portanto, um presente imerecido, sendo Jesus Cristo o único salvador, e a fé Nele o único meio de salvação.

No entanto, aceitar Jesus como Salvador era apenas o começo. Para os anabatistas, a obediência a Cristo Senhor era uma parte integral e inseparável da verdadeira fé. Hans Denck, um dos primeiros líderes anabatistas, afirmava que essa obediência devia ser genuína, com coração, boca e ações em total concordância. Acreditavam que não poderia haver um coração verdadeiramente crente onde a fé não se tornasse visível através das palavras e das ações.

A vida de Cristo servia como o modelo supremo de uma vida que agradava a Deus. Os escritos anabatistas continuamente exortavam os crentes a seguir concretamente o exemplo de Jesus em todos os aspectos da vida. Para eles, Cristo, com Seu Espírito e Palavra, era o verdadeiro mestre, exemplo, caminho e espelho para os discípulos.

A nova ordem de amor, conforme encontrada em João 13:34, era central para a definição anabatista de fé genuína e verdadeiro cristianismo. Eles insistiam que este mandamento de amor era concreto e se aplicava a situações específicas da vida humana. Implicava perdoar as injúrias, recusar a vingança, evitar causar dano, renunciar à coerção, auxiliar os necessitados, apoiar e defender os pobres, consolar os que sofriam e pregar o Evangelho aos desfavorecidos. O mandamento de amar não era um assunto trivial, mas um compromisso deliberado e consciente que cada discípulo assumia no batismo e renovava regularmente ao participar da Ceia do Senhor.

Os anabatistas acreditavam firmemente que, uma vez que Deus havia dado o mandamento de amar a todos os homens, de viver na verdade e de fazê-lo em comunidade, isso era possível, e que Deus concederia Seu poder e Espírito àqueles que Lhe pedissem. Eles criam que a pessoa que tinha fé era gradualmente transformada na santidade de Deus à imagem de Jesus pela ação do Espírito Santo. Essa santificação, então, tornava-se visível através da vida que era vivida. Boas obras eram tanto a consequência quanto a evidência de ser feito santo. Apesar dessa ênfase na vida cristã prática, os anabatistas rejeitavam a acusação de legalismo, insistindo que suas obras eram fruto da graça e da fé, e não um meio de alcançar a salvação por mérito próprio.

A decisão de seguir a Cristo era um ato individual de fé, mas a nova vida à qual o discípulo entrava era essencialmente comunal. Tornar-se um discípulo significava ingressar na comunidade daqueles que deliberadamente decidiam realizar, no presente, a vontade de Deus para toda a humanidade. Eles acreditavam que o cristão não era capaz de ser um discípulo isoladamente, mas necessitava da ajuda e compreensão de outros para trilhar o caminho estreito da vida. A Igreja de Cristo era vista como uma “lanterna de justiça”, na qual a luz da graça era mantida diante do mundo para que outros aprendessem o caminho da vida.

Nesse contexto comunitário, a prática da disciplina eclesiástica era fundamental. Se o pecado ocorresse, aquele que o soubesse era responsável por lidar com ele, seguindo os princípios de Mateus 18:15-18. O objetivo era a restauração do pecador e a manutenção da pureza da comunidade. O banimento, ou excomunhão, era usado apenas como último recurso, quando havia clara incompatibilidade de vida e convicção.

O batismo era um elemento central na fé anabatista, sendo administrado somente àqueles que davam evidências de arrependimento, de uma vida transformada, que criam que seus pecados haviam sido removidos por Cristo e que desejavam segui-Lo. Era uma decisão adulta, significando o compromisso do crente renascido com uma vida de obediência na comunhão com outros crentes. O batismo infantil era rejeitado por não encontrarem suporte nas Escrituras, argumentando que o pecado entrava no mundo com o despertar do conhecimento do bem e do mal, algo que um infante não possuía.

A Bíblia era considerada a autoridade final para o cristão, rejeitando a tradição como tendo igual validade. A interpretação das Escrituras era centrada na vinda de Jesus, sendo Seus ensinamentos e ações, bem como os de Seus primeiros seguidores, de maior autoridade. Além disso, embora concordassem com Lutero que todo crente possuía o Espírito Santo e podia interpretar as Escrituras, os anabatistas enfatizavam que, em última instância, era a comunidade dos discípulos reunidos que interpretava a Bíblia, buscando um entendimento comum de seu significado.

Os anabatistas também rejeitavam a noção de que pessoas, lugares ou coisas fossem inerentemente sagradas. Para eles, a santidade era de natureza pessoal e ética. Em Jesus, Deus havia santificado todas as pessoas, lugares, coisas, tempos e palavras que eram dedicados a Ele. Essa visão se refletia em suas práticas, como a celebração da Ceia do Senhor com pão e vinho comuns em lares, sem a reverência cerimonial de um templo.

A verdadeira fé cristã, para os anabatistas, também implicava uma separação radical do mundo e de suas práticas. Isso se manifestava na recusa em participar do magistério, em prestar juramentos e em envolver-se em guerras. Eles acreditavam pertencer a uma nova ordem, o reino pacífico de Cristo, que operava sob princípios radicalmente diferentes do reino deste mundo.

Finalmente, a disposição para sofrer perseguição era vista como uma característica inerente à verdadeira fé cristã. Eles acreditavam que aqueles que eram sérios em seguir a Cristo seriam perseguidos, assim como Jesus havia predito. A história dos mártires anabatistas, preservada em obras como o “Espelho dos Mártires”, era uma constante lembrança do custo do discipulado e da importância de permanecer fiel mesmo diante da morte.

Em resumo, a verdadeira fé cristã, na perspectiva anabatista, era uma fé viva e ativa, enraizada na graça de Deus através de Cristo, manifesta em obediência aos Seus mandamentos, especialmente o amor, vivida em comunidade com outros crentes, guiada pelas Escrituras e disposta a suportar o sofrimento por seguir o Senhor e separar-se do espírito do mundo.

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