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A intensidade da perseguição cristã variou significativamente ao longo dos primeiros três séculos da igreja, oscilando entre períodos de relativa tranquilidade e ondas de repressão severa, com características locais e imperiais distintas. Contrariamente à crença popular, a perseguição no Império Romano não foi uma experiência constante para os cristãos. Em vez disso, foi esporádica, intercalada por longos períodos de paz relativa. O primeiro longo período de paz durou de 211 a 250 (com uma breve interrupção em 235), e o segundo, de 258 a 303.

Nos primeiros dois séculos, a perseguição era mais frequentemente localizada do que em todo o Império. Muitas vezes, a perseguição crescia mais da animosidade da população do que de uma política governamental deliberada. Rumores inflamados, talvez baseados nas primeiras observâncias cristãs da Eucaristia e dos ágapes, acusavam os crentes de canibalismo e incesto, o que fomentava a hostilidade popular. Em algumas províncias, como a Bitínia, já no início do século II, o governador romano não hesitava em enviar à execução imediata aqueles que eram denunciados como cristãos, sendo o próprio nome suficiente para uma sentença de morte.

O imperador Nero lançou uma perseguição em 64 d.C. após o grande incêndio de Roma, do qual ele culpou os cristãos. Muitos foram presos, torturados e mortos na arena. Embora essa perseguição não tenha tido um seguimento imediato, ela prejudicou qualquer chance de os cristãos serem reconhecidos como uma “religião legal” separada do judaísmo.

Sob o imperador Domiciano (81-96), houve ações drásticas contra alguns membros da nobreza romana acusados de “ateísmo” e de “recaírem em costumes judaicos”, embora não seja certo que o cristianismo fosse o alvo principal. No entanto, Domitila, parente do imperador, exilada por supostamente ser cristã, sugere que a acusação de “ateísmo” poderia estar relacionada à sua fé.

Cerca de 112 d.C., Plínio, o governador da Bitínia, confrontou-se com cristãos e escreveu ao imperador Trajano sobre como lidar com eles. Plínio executava imediatamente aqueles que confessavam ser cristãos, considerando a “obstinação e perversidade inflexível” como merecedoras de punição. A resposta de Trajano foi ambígua: os cristãos não deveriam ser procurados, mas se fossem denunciados e se recusassem a adorar os deuses romanos, deveriam ser punidos; denúncias anônimas, contudo, deveriam ser rejeitadas.

Doze anos depois (124-125), os cristãos obtiveram uma concessão adicional. O rescripto do imperador Adriano permitiu que casos contra cristãos fossem levados a julgamento, mas exigia que eles fossem comprovadamente culpados de atos ilegais antes de serem condenados, proibindo também “ataques caluniosos”.

Entre 125 e 160, os cristãos desfrutaram de uma tolerância precária. No entanto, com a ascensão de Marco Aurélio em 161, a situação mudou. Os cristãos tornaram-se extremamente impopulares, sendo culpados por desastres naturais devido à sua recusa em adorar as divindades protetoras. Perseguições violentas eclodiram em várias regiões, como em Lyon em 177, onde 48 cristãos foram mortos. O próprio Policarpo, bispo de Esmirna, foi martirizado durante este período.

Sob a Dinastia Severa (193-235), embora o cristianismo permanecesse ilegal, a igreja tornou-se mais forte. No entanto, de cerca de 202 a 210, houve uma onda de sentimento anticristão em cidades como Cartago, Alexandria e Roma, resultando em perseguições localizadas, afetando principalmente convertidos como Perpétua e Felicidade.

O fim da Dinastia Severa em 235 trouxe outro breve período de perseguição sob Maximinus Thrax (235-238), visando os líderes da Igreja. Seguiram-se 12 anos de calma, durante os quais a igreja se expandiu.

Sob o imperador Décio (249-251), a igreja enfrentou o que retrospectivamente foi seu teste mais severo, a primeira perseguição deliberadamente em todo o Império. Décio, buscando restaurar as virtudes republicanas romanas e associar todos os habitantes do Império ao sacrifício anual ao imperador e aos deuses de Roma, ordenou a prisão de líderes cristãos e exigiu que todos realizassem sacrifícios públicos para provar sua lealdade religiosa. Aqueles que se recusavam eram presos, torturados e mortos. Muitos cristãos cederam à pressão, realizando os sacrifícios ou obtendo certificados (libelli) que atestavam que o haviam feito. A perseguição de Décio causou profundas divisões entre os cristãos sobre como tratar os que haviam apostatado.

O imperador Valeriano (253-260) inicialmente tolerou os cristãos, mas em 257 mudou sua política, visando não destruir a igreja, mas trazê-la em conformidade com os ritos públicos. Ele ordenou a deportação de bispos e o fechamento de locais de culto e cemitérios. Em 258, a perseguição se intensificou, com a ordem de execução de bispos, sacerdotes e diáconos, a confiscação de propriedades da igreja e a redução à escravidão de leigos socialmente superiores e funcionários imperiais cristãos. Esta perseguição de 258-259 foi, em algumas partes do Império, a mais sangrenta que a igreja havia suportado até então.

A morte de Valeriano trouxe mais de 40 anos de paz (260-303), embora os cristãos ainda pudessem ser presos em incidentes isolados. Durante esse período, o cristianismo se expandiu, e a igreja tornou-se um movimento tanto do campo quanto das cidades.

Em 303, iniciou-se a “Grande Perseguição” sob o imperador Diocleciano e seu colega Galério, a última e talvez a mais severa perseguição em todo o Império. Impulsionada por uma tentativa de restaurar os valores tradicionais romanos e pela crescente influência anticristã de Galério, a perseguição começou com a destruição de igrejas, a proibição de cultos cristãos e a queima das Escrituras. Edictos subsequentes ordenaram que o clero sacrificasse e, em 304, impuseram a obrigação universal de sacrifício sob pena de morte. A perseguição foi particularmente severa no Oriente, sob Galério, e no Norte da África. No entanto, mesmo durante essa perseguição, houve variações regionais em sua intensidade e aplicação.

A abdicação de Diocleciano e Maximiano em 305 trouxe uma breve pausa na perseguição no Ocidente sob Constâncio. No Oriente, Galério renovou a perseguição, embora com o tempo a aplicação dos editos tenha diminuído. Em 311, percebendo que estava morrendo, Galério emitiu um edito de tolerância, permitindo que os cristãos existissem novamente e restaurassem seus locais de reunião.

A perseguição terminou formalmente no Ocidente com a vitória de Constantino e o encontro com Licínio em Milão em 313, resultando no chamado “Édito de Milão”, que concedeu a todos a liberdade de seguir sua própria consciência religiosa, marcando um ponto de virada crucial na história do cristianismo.

Em suma, a intensidade da perseguição cristã nos primeiros séculos foi marcada por flutuações significativas. Períodos de tolerância e paz relativa eram interrompidos por ondas de perseguição, que podiam ser desencadeadas por fatores locais, como agitação popular e acusações infundadas, ou por políticas imperiais mais amplas, motivadas por preocupações religiosas, políticas ou sociais. As perseguições variaram em escopo, desde ações localizadas até tentativas imperiais de erradicar o cristianismo em todo o Império. No entanto, a resiliência e a fé dos primeiros cristãos, mesmo diante de intensa perseguição, foram fundamentais para a sobrevivência e eventual triunfo da igreja.

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