Antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.), existiam diversas concepções sobre o Logos dentro do pensamento cristão e em relação a outras correntes filosóficas e religiosas. Estas concepções refletiam tentativas de compreender a relação entre Deus e o mundo, e particularmente a posição de Cristo nessa relação.
Os apologetas dos séculos II e III d.C. foram figuras importantes no desenvolvimento do conceito de Logos. Eles apresentavam Deus como o Auto-existente, Imutável e Eterno, a causa primária do mundo, melhor descrito em termos negativos devido à Sua singularidade e perfeição. Ao se referirem ao Filho, preferiam o termo “Logos”, um termo familiar na filosofia grega, o que atraía as classes cultas. Contudo, o Logos dos apologetas, diferentemente do Logos filosófico, possuía personalidade independente.
Para os apologetas, o Logos existia eternamente em Deus como a razão divina, sem existência pessoal. No entanto, com vistas à criação do mundo, Deus gerou o Logos do Seu próprio Ser, conferindo-Lhe assim existência pessoal. Essencialmente, Cristo era a razão divina imanente em Deus, à qual Deus concedeu existência separada e por meio da qual Ele Se revelou. Embora essencialmente idêntico a Deus, o Logos poderia ser chamado de criatura em virtude de Sua origem como pessoa. Seeberg observou que, sendo razão divina, o Logos não se mostrou operante apenas na criação e no Velho Testamento, mas também nos sábios do mundo pagão.
Os Pais anti-gnósticos, como Irineu e Tertuliano, também contribuíram para a compreensão do Logos, muitas vezes em contraste com as ideias gnósticas. Irineu tinha aversão a especulações excessivas sobre o Logos, afirmando simplesmente que o Logos existira desde toda a eternidade, sendo instrumental na revelação do Pai. Ele focava no Filho de Deus historicamente revelado, Jesus, que através da encarnação se tornou verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Irineu rejeitava a separação gnóstica entre um Jesus transitório e um Cristo não-transitório, enfatizando a união de Deus com a natureza humana.
Tertuliano desenvolveu a doutrina do Logos de maneira historicamente significativa. Ele frisava que o Logos dos cristãos era uma Pessoa independente, com subsistência real, gerada por Deus por auto-projeção, não por emanação, como uma raiz projeta uma árvore. Para Tertuliano, houve um tempo em que essa Pessoa não existia. Ele também enfatizava que o Logos era da mesma substância do Pai, embora diferente quanto ao modo de existir como Pessoa distinta. Cristo não veio à existência por divisão, mas por auto-desdobramento; o Pai era a substância inteira, e o Filho, parte dela por ter sido gerado. Embora ainda mantivesse uma certa ideia de subordinação, a obra de Tertuliano foi crucial para a introdução dos conceitos de “substância” e “pessoa” na teologia, que seriam fundamentais para a formação do Credo Niceno. Ele também concebia o Logos como originalmente razão impessoal em Deus, tornando-se pessoal na criação, uma ideia compartilhada por Irineu.
Os Pais Alexandrinos, Clemente e Orígenes, apresentaram visões mais especulativas sobre o Logos, influenciados pela filosofia helenística. Clemente de Alexandria não era totalmente claro em sua exposição do Logos. Ele enfatizava a subsistência pessoal do Logos, Sua unidade com o Pai e Sua geração eterna, mas também O representava como a razão divina, subordinada ao Pai. Clemente distinguia entre o verdadeiro Logos de Deus e o Logos-Filho que se manifestou em carne. Ele via o Logos como mediador da revelação divina desde o princípio, estampando a sabedoria divina na criação, conferindo aos homens a luz da razão, fazendo revelações especiais da verdade e encarnando-se em Jesus Cristo. A luz do Logos servia aos gentios como um degrau para uma luz mais plena do evangelho.
Orígenes afirmava que o Deus único era primariamente o Pai, mas Se revelava e operava através do Logos, que era pessoal e co-eterno com Deus Pai, gerado por Ele por um ato eterno. Ele rejeitava qualquer ideia de emanação ou divisão na geração do Filho. No entanto, apesar de reconhecer a plena divindade do Filho, Orígenes utilizava expressões que subentendiam uma subordinação, definindo a geração eterna de modo a implicar não só subordinação econômica, mas também essencial do Filho ao Pai. Ele por vezes chamava o Filho de Theos Deuteros (Segundo Deus). Orígenes também ensinava que, na encarnação, o Logos uniu-Se a uma alma humana que se mantivera pura em sua preexistência, sustentando que o Logos, pela Sua ressurreição e ascensão, deificou a Sua natureza humana.
Em contraste com essas visões que buscavam articular a divindade do Logos, surgiram os monarquianismos no século III d.C., que enfatizavam a unidade de Deus em reação ao que percebiam como uma ameaça ao monoteísmo. O monarquianismo modalista, representado por Sabélio, via Pai, Filho e Espírito Santo como meros modos ou manifestações da única essência divina, não como pessoas distintas. As designações seriam apenas nomes dados a três fases diferentes em que a una essência divina se manifestaria: Pai na criação e na lei, Filho na encarnação, e Espírito Santo na regeneração e santificação.
Outra forma de monarquianismo, o dinâmico ou adocionista, via Cristo como um mero homem que foi revestido de poder divino em algum momento de sua vida (por exemplo, no batismo). Os escritos mencionam Noeto de Esmirna, que teria afirmado que Cristo é o próprio Pai, e que o Pai sofreu e morreu. Ele teria dito que o Pai, ao submeter-Se ao nascimento, tornou-Se Filho, filho de Si mesmo.
Finalmente, embora o Concílio de Nicéia seja posterior ao período em questão, é importante notar que as ideias de Ário, que levaram ao concílio, também representavam uma concepção do Logos anterior a 325 d.C. Ário distinguia entre o Logos imanente em Deus (mera energia divina) e o Filho ou Logos que se encarnou. Este último teria tido um começo, sendo criado pelo Pai do nada antes do mundo. Para Ário, isso significava que o Filho não era eterno nem possuía a mesma essência divina do Pai, embora fosse a primeira e maior de todas as criaturas, trazido à existência para criar o mundo por meio d’Ele. Ário via o Filho como mutável, embora divinamente escolhido por seus méritos pre-conhecidos e adotado como Filho, merecendo veneração.
Em resumo, antes do Concílio de Nicéia, o conceito de Logos no pensamento cristão era multifacetado e em desenvolvimento. Havia desde visões que o identificavam como a razão divina de Deus, que ganhava pessoalidade na criação (apologetas), até elaborações que enfatizavam sua eterna existência e substância divina, embora com nuances de subordinação (Pais anti-gnósticos e Alexandrinos). Em contraste, os monarquianismos buscavam preservar a unidade divina, seja vendo o Logos como um mero modo de Deus ou como um homem divinamente capacitado. As ideias de Ário representavam uma visão do Logos como uma criatura, embora a mais exaltada, distinta da essência divina do Pai. Essas diversas concepções prepararam o terreno para as controvérsias teológicas que culminaram no Concílio de Nicéia e na formulação do Credo Niceno.