Revelação divina é o ato pelo qual Deus se dá a conhecer às suas criaturas, tornando acessível aquilo que, de outro modo, estaria oculto por causa da limitação humana e da transcendência divina. É o meio pelo qual Deus comunica a verdade sobre si mesmo, sua vontade, seu caráter e seus propósitos eternos.
1. Definição teológica de revelação
Augustus Strong define revelação como:
“A comunicação sobrenatural da verdade por parte de Deus ao homem, verdade esta que não poderia ser conhecida por meio do raciocínio humano, nem descoberta pela observação da natureza.”
Portanto, revelação é o ato de Deus se manifestar e comunicar. É uma iniciativa divina, não uma descoberta humana. O ser humano conhece a Deus apenas porque Deus decidiu se dar a conhecer.
2. Necessidade da revelação
A revelação é necessária por duas razões:
- Deus é transcendente: Ele está infinitamente acima da criação e do entendimento humano. O homem não pode conhecer a Deus por si mesmo (Rm 11.33).
- O ser humano é limitado e pecador: Sua razão é afetada pelo pecado. Portanto, precisa que Deus se revele de forma clara e eficaz (1Co 2.14).
Sem revelação, não poderíamos saber quem Deus é, como adorá-lo, nem como ser salvos.
3. Tipos de revelação divina
A teologia distingue entre revelação geral e revelação especial.
a) Revelação Geral (ou Natural)
É a revelação de Deus a todos os homens, em todos os tempos, por meio da criação, da história e da consciência.
- Criação: a natureza revela o poder e a glória de Deus (Sl 19.1; Rm 1.20)
- Providência: a preservação e o governo do mundo manifestam a mão de Deus (At 14.17)
- Consciência moral: o senso de certo e errado aponta para um legislador moral (Rm 2.14-15)
Limites: a revelação geral é suficiente para tornar o homem indesculpável (Rm 1.20), mas insuficiente para levar à salvação. Ela mostra que Deus existe e é poderoso, mas não revela Cristo.
b) Revelação Especial
É a revelação sobrenatural, direta, redentora e progressiva que Deus fez a pessoas específicas, por meios específicos, com conteúdos específicos, registrados nas Escrituras.
Inclui:
- Teofanias: manifestações visíveis de Deus (Êx 3.2-6)
- Sonhos e visões: revelações a profetas e servos (Dn 7.1; Mt 1.20)
- Milagres: sinais visíveis do poder divino (Jo 20.30-31)
- Profecias: mensagens diretas de Deus aos homens (Hb 1.1)
- Cristo: a revelação suprema de Deus (Jo 1.18; Hb 1.2)
- Escrituras: a revelação inspirada, inerrante e suficiente de Deus (2Tm 3.16; 2Pe 1.21)
A revelação especial culmina em Jesus Cristo e é preservada de forma escrita na Bíblia, a Palavra de Deus.
4. Cristo como a revelação máxima
A revelação especial atinge seu ápice na pessoa de Jesus Cristo:
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18)
“Havendo Deus antigamente falado […] nestes últimos dias nos falou pelo Filho” (Hb 1.1-2)
Cristo é a revelação pessoal, encarnada, visível e perfeita de Deus. Conhecer a Cristo é conhecer o Pai.
5. A Escritura como revelação escrita
A Bíblia é a forma objetiva e permanente da revelação divina. Inspirada pelo Espírito Santo, ela é a regra de fé e prática da Igreja. Tudo o que Deus quis revelar de modo suficiente para a salvação e a vida cristã está nas Escrituras.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino […] para que o homem de Deus seja perfeito” (2Tm 3.16-17)
A revelação especial se encerra no cânon bíblico. Não há novas revelações no mesmo nível da Escritura.
Conclusão
A revelação divina é o meio pelo qual Deus comunica a verdade sobre si mesmo. Ela ocorre:
- De forma geral, a todos, por meio da criação e da consciência;
- De forma especial, por meio da Palavra, dos profetas e principalmente em Cristo;
- De forma escrita, na Bíblia, que é completa, suficiente e infalível.
Sem revelação, não poderíamos conhecer a Deus. Mas, pela Sua graça, Ele se fez conhecer. A teologia parte desse ato fundamental: Deus falou — e continua falando pela sua Palavra viva e eterna.